sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Lelé

Eu tinha me decidido a não tirar o dia para fazer nada hoje. Eu queria mesmo fazer alguma coisa de útil pra minha vida. Eis que eu saio e o sol vai me esquentando, e é de manhã e eu tinha desistido do café e eu queria mesmo era que alguma coisa fosse resolvida. Eu entrei lá naquele prédio, desci no terceiro andar e peguei o exame dela. Eu não ia abrir, mas eu precisava ter algum argumento, pra ela ou pra mim. Pra ela voltar ou pra eu deixar de ficar querendo que ela volte que é melhor que ela fique mesmo por lá. Eu acabo lendo o resultado e não é um bom resultado. Poderia ser pior, mas as coisas ruins às vezes são contadas com palavras estranhas que não parecem ruins à primeira vista. Palavras que não são de ferir, mas acabam ferindo, e essa foi a primeira decepção do dia. Porque isso jamais me servirá de argumento pra achar que ela deve mesmo ficar por lá um bom tempo. E eu jamais poderia falar pra ela e usar isso como forma de convencê-la a voltar. Porque dentre outras coisas isso seria muito feio e essa semana eu não quero fazer nada muito feio.
Essa semana eu tenho achado que o mundo inteiro é um lugar muito feio pra se viver, e o pensamento vem de quinta passada, que eu não me importaria em abrir mão de nada nessa vida, eu preferia mais que tudo isso ser uma pedra subaquática, ou ser uma gota de água no meio do mar porque assim, apesar de tudo eu seria parte de algo bonito e ela ficaria feliz a me ver de manhã. Porque minha vontade é grande e me dá vontade de chorar só de pensar nela, e ela é maior até do que a minha força, ou da força que eu acho que eu tenho pra mudar as coisas. E as coisas não querem ser mudadas e eu não posso forçar nada a ninguém nem ninguém a nada. Talvez eu só tenha que me aquietar e ocupar a cabeça com outras coisas. Mas eu não consigo. Eu não consigo procurar amenidades pra guardar aqui, porque nada deveria, pra mim, ser mais ameno do que eu mesma. Porque eu paro e fico pensando que uma vez meu corpo expulsou um piercing que eu fiz porque o seu organismo é feito para expulsar corpos intrusos. Mas se meu organismo começa a expulsar a minha alma pra onde eu vou? É o que eu tenho sentido. E é tão bonito sair dizendo por aí que não encontra lugar no mundo que talvez esse sentimento seja mesmo comum a toda essa gente, mas tem me sido cada vez mais nítido e exagerado a cada dia.
Hoje o meu avô me deu alguns presentes e entre eles estavam três macaquinhos pequenos. Um, tapa os olhos, o outro, tapa os ouvidos, e o outro, tapa a boca. É um símbolo da filosofia budista e significa “nada vejo, nada ouço e nada falo”.