terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Eightball

mais daniel clowes!



baixe a 1a edição da revista 'eightbal' do talentoso daniel clowes!
http://www.mediafire.com/?3zyjoxk41o9

para abrir o arquivo (extensão .cbr) você vai precisar de um software chamado "comical". nada que o google não resolva!

boa semana e feliz ano novo.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

phot-o-graph



desenho original de daniel clowes.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

série figuras nos ônibus



tem coisas na vida que me fazem sentir como coadjuvante de um filme.

por exemplo, entrar no ônibus errado junto com o casal mais estiloso da semana, quiçá do mês, ver a menina descer algumas horas antes do cara, sentir ele pedir pra ser desenhado enquanto olha neurótico pra janela a cada dois segundos no pior trânsito em muito tempo. estar numa manhã cinza e abafada em fortaleza (que nunca é cinza nem abafada) atrasada para uma palestra que no final de tudo nem vai acontecer, passando em frente a um fusca bege que está a venda por r$ 4500,00 e ver o cara estilo levantar e olhar o fusca em cada um dos seus detalhes e então você pensar "sai! eu passo aqui todo dia e vejo ele todo dia! eu cheguei primeiro!" e então você vê ele balançar a cabeça como quem diz "caro demais" e fica mais aliviada mesmo sabendo, no fundo, que você nunca vai comprar aquele fusca. então o ônibus pára de novo e vocês descem na mesma parada e você acha todo aquele estilo tão artificial que dá vontade de ser sempre desarrumada e sente vontade de desviar o caminho mesmo que desviar o caminho signifique dobrar uma rua antes do que você precisaria e você faz isso e exatamente quando você se vê há menos de um quarteirão de onde queria chegar o cinza vai desaparecendo e vem chegando um vento e no seu ipod começa a tocar uma música muito feliz...

esse mundo é mesmo estranho.

sexta-feira, 18 de abril de 2008


UM GAFANHOTO ENORME


A porta foi aberta. Havia, ainda, um vão imenso lá atrás daquela cortina, do pano branco. Solitário, em cima do banco, o pequeno aparelho disparava uma luz de cor diferente cada vez que alguém, do outro lado do pano, se mexia. Era como um tiro, transformando tudo numa cor só, mas, aqui de trás do pano, no breu, víamos apenas um raio e um clarão.

Tudo começa a rodar fazendo com o rastro um desenho estranho e bonito, circular, solto. A pequena fumaça, que na verdade eram só partículas do ar que movíamos ao rodopiar, apagava bem rápido, antes que pudéssemos entender bem que desenho era, mas, se nos projetássemos pra fora de tudo, distantes, poderíamos imaginar, dentro de nossas cabeças, o desenho real.

De fora, e vendo dentro de todos, eu percebi as cores diferentes e os desenhos diferentes que cada um imaginava. Mas não seria óbvio que fosse assim? De qualquer forma, enchi o peito de alegria e abri um sorriso. Percebi, no reflexo das cores, meus olhos brilhando e no reflexo do brilho dos meus próprios olhos, todas as cores. Nunca saíram daqui. Não eram tiros, eram só clarões, não importa de onde se olhasse.

Um dos clarões veio tão forte que ouvi uma música tocar. Um zunido, e, de repente um gafanhoto enorme rodopiava, dançando ao som do próprio canto, no ritmo das cores que explodiam nos clarões descompassados. De repente me encontro em pé. Tudo parado. As cores se esconderam em algum lugar. No início tudo parece desbotado, inerte, só percebo o contorno, mas, lentamente, a música vem voltando e as cores começam a se manifestar. Algo que eu nunca vi antes. Elas só parecem refletidas, mas eu não consigo perceber de onde.

Me deparo com uma parede enorme. Não vejo o topo, não vejo os limites, só vejo onde corta onde piso, e, ainda assim, não me atrevo a chamar de chão uma placa flutuante. À medida que a música vai ficando mais intensa, o desenho vai se definindo. Na parede nasce um jardim. As raízes vão crescendo, desenhando rodopios, desenhando o ritmo disso tudo, seja lá o que for. Preciso de um nome, pelo menos pras cores. As folhas de verde intenso brilham, refletidas de algum lugar que não sei qual é. Espelhos verdes com pequenos detalhes lilases. Fico em pé ainda algum tempo, contemplando aquilo tudo. Daqui não me projeto pra fora. Não sei de onde vem a luz. Não sei a cor real dos espelhos. Não entendo mais o ritmo. Não vejo mais de longe, não vejo mais por dentro. Fico em pé, olhando, estarrecidamente, a parede. Preciso, novamente, me mexer.

domingo, 16 de março de 2008

what the fuck is sonic youth?


quem dirá?

segunda-feira, 10 de março de 2008

na verdade eu não lembro como começou.eu nunca fui muito de falar, sabe? e todas as conversas me transbordavam ali naquele cantinho mínimo, na margem direita.eu pensava muitas coisas e colocava tudo ali, pequenino, mas não apertado.lembro também de quando me davam muito espaço. era como se eu não soubesse mais.ficava ali meio no centro, meio de lado. talvez eu ainda estivesse procurando aquele pedacinho de margem direita.eu fui me acostumando aos grandes espaços.mas contar assim não tem graça.uns anos depois eu ganhei um caderninho. assim, com todas as folhas em branco.e eu pensei: eu quero o caderninho mais bonito. e eu tinha vindo daquela aula em que disseram que beleza era verdade e eu acreditei.aí fiz daquele caderninho o meu diário sem palavras. era tudo como eu via e só.verdadeiro e bonito. o caderninho mais bonito.e até hoje eu venho procurando desenhar tudo assim, pra ser bonito e verdadeiro, tanto quanto meu diário.

a esperança

fatos verídicos do dia de hoje:

domingo, 3 de fevereiro de 2008

A mulher Maria

Um cheiro forte de óleo diesel impregnava o ar. O balançar do carro era cada vez mais insuportável ao passar pela estrada maltratada. Fazia muito frio. O barulho do motor, do vento, do movimento e a luz do sol que nascia a despertaram. Não que estivesse dormindo. Seria impossível dormir naquelas condições, mas passara as ultimas duas horas e meia, entregue a um estado de letargia, enquanto os quilômetros passavam em forma de nuvens, fios, postes de energia e a inércia a sacudia com as freqüentes alterações de velocidade.
Nos bancos da frente iam calados, sua mãe e seu irmão mais velho. Completamente desconexos e alheios a toda a situação, até que ela resolve sentar-se e, ele, ao ver que ela acordou, liga o rádio. Música sem emoção é o que sente. Rompe-lhe no peito, silenciosamente, o princípio do desencanto. Ela não podia suspeitar que morresse, ali, dentro dela, naquele momento, a alma de todos os artistas. Aquele momento de imparcialidade sepultou, sob o asfalto frio do início do dia, o propósito de todas as musas.
Ele olha sua mãe. Ela não está ali. Tem os olhos, a mente e o coração focados na estrada. O único sentido daquilo tudo é que saíssem dali. A casa ficava para trás, a família ficava para trás, mas acompanhava-lhe os filhos, transbordando esperança e vontade pelo dia que acabara de nascer. Cruzaram o último quilômetro da última cidade antes da nova terra que vos acolheria agora. Teriam, outra vez, uma casa. Teriam, outra vez, uma vida cheia de novas possibilidades. O cheiro de óleo tocava-lha como cheiro de plástico. De brinquedo novo. Era um presente que ganhava e dava aos filhos. Ali, finalmente, teriam paz.
Na solidão do banco traseiro, Maria, abraçava uma pequena mala que tinha servido de travesseiro nas horas em que tentou dormir. Tinha cheiro de perfume de criança e ela podia, agora, identificar. Via-se refletida no vidro do carro e reconhecia seus próprios traços. Os cabelos estavam desarrumados, o rosto um pouco inchado, mas ainda era ela. Sentia aquele cheiro de criança saindo da mala e isso a incomodava. Evitava pensar que aquele era seu cheiro, mas como estava ali, sozinha no banco de trás, aquilo não podia ser, senão dela. O cheiro de criança vinha, agora, mais forte de seus cabelos, de suas orelhas, de seus pés, de suas mãos. Aquilo a irritava. Não podia ser dela. Ela não podia mais cheirar a criança. Estava indo embora e crianças não vão embora. Crianças ficam em casa esperando os adultos voltarem da rua com presentes e histórias. Maria ia embora, e não podia ir sem deixar sozinha, em casa, a criança.
A mulher Maria entra naquela pousada que cheira a coisa velha. Não se parecia com a imagem que tinha feito durante os longos quilômetros que percorreram. Não parecia com sua casa antiga. Não parecia com o que ela esperava encontrar. Maria encontrava-se, mais uma vez com o reflexo que a mostrava descabelada e desfigurada. Que não era capaz de refletir nada que fosse bonito. A partir dali, esta seria a imagem com a qual Maria teria de conviver. O cheiro de criança chegara ao ápice do incômodo e ela rompeu em direção ao quarto onde dormiriam aquela manhã. Trancou-se no banheiro, abriu o chuveiro, lavou-se, como se tentasse limpar de si tudo o que ficara da ex-casa, da ex-família, da ex-vida. A mulher Maria não cheira mais a criança. Dorme seu sono adulto até o fim da tarde, quando entra, com seus novos desconhecidos, no carro onde jamais entrara antes e exploram ainda mais alguns quilômetros inexplorados e chegam à cidade de ninguém.
O apartamento tem paredes brancas e os quartos não cheiram a nada. Maria senta-se no chão frio e desfaz a pequena mala-travesseiro. Tira de dentro dela alguns brinquedos, papel, lápis de cor e os esconde no canto da parede. Na ausência de um armário, um imaginário serve. A mãe sobe com as outras malas. Não é muita coisa. Maria deita-se no chão frio e adormece com o colorido desbotado dos pertences da criança morta que velará seu sono.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

ré bemol com sétima menor

Eu acho que houve mesmo aqueles momentos em que a gente se permitia fazer de tudo. Era engraçado. Era muita experimentação. Nosso constrangimento quando descobríamos que não era bem aquilo. Porque, pelo menos pra mim, a transgressão quase sempre vinha com alguma dor. Ou por esforço, ou por eu glorificar demais aquela merda. Tudo tinha um gosto muito azedo. Doía. Mas era glorificante. A gente não sabia de nada. Eu não sabia de nada.

O fato é que muitas vezes a gente fazia coisas grandes, sabe? E quase nunca era do jeito que eu esperava há, há, há. Eu, apesar de tudo, tinha ideais muito puritanos. Eu sonhava alto. Sonhava que a arte poderia servir como um instrumento de renovação espiritual e na época todo mundo riria disso, sabe? Na verdade não. Eles iam fingir estarem sacando tudo. Iam se fingir de aliados, mas por dentro estariam gargalhando. Eles queriam chegar longe com aquilo, mas não sabiam nem pra quê. Você entende? Era tudo muito sem propósito. E eu estava naquilo pra sobreviver. Porque fora dali tudo me doía demais. Eu sei que talvez pra eles também fosse assim, mas eles eram fortes lá dentro entende? Eu não. Eu buscava significado em tudo. E você pode imaginar: eu era o retrato da frustração.

Quando eu entendia bem as coisas eu sabia que não tinha nada a ver com amor ou admiração. Eu ia me permitir sentir tudo aquilo. Era realmente como uma grande devoção. Eu ia fazer músicas sobre aquilo, ia escrever, mas se você se aproximasse demais eu chutaria. Como chutei.

A gente não ficava parado nunca. Era bizarro como sempre estava acontecendo alguma coisa e quando nada acontecia era tipo o fim do mundo. Eu precisava de movimento, atividade, não importa o que fosse. Eu não media nada. Não me importava aonde aquilo ia me levar, eu só não queria ficar aqui.

Mas disso tudo eu acho que aprendi a absorver as coisas sem ter a sensação de posse. Isso dá um poder absurdo, porque, uma vez que você não possui algo, não pode perder, certo? E absorver tudo isso é uma experiência única. Cá estou eu falando do passado, sem dor. Ele não é meu. Eu não tenho passado. Você não entende, né? Isto está ficando ridículo e quase sentimental. Vou parar. Não quero uma música tocando na sua cabeça.