quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

série figuras nos ônibus



tem coisas na vida que me fazem sentir como coadjuvante de um filme.

por exemplo, entrar no ônibus errado junto com o casal mais estiloso da semana, quiçá do mês, ver a menina descer algumas horas antes do cara, sentir ele pedir pra ser desenhado enquanto olha neurótico pra janela a cada dois segundos no pior trânsito em muito tempo. estar numa manhã cinza e abafada em fortaleza (que nunca é cinza nem abafada) atrasada para uma palestra que no final de tudo nem vai acontecer, passando em frente a um fusca bege que está a venda por r$ 4500,00 e ver o cara estilo levantar e olhar o fusca em cada um dos seus detalhes e então você pensar "sai! eu passo aqui todo dia e vejo ele todo dia! eu cheguei primeiro!" e então você vê ele balançar a cabeça como quem diz "caro demais" e fica mais aliviada mesmo sabendo, no fundo, que você nunca vai comprar aquele fusca. então o ônibus pára de novo e vocês descem na mesma parada e você acha todo aquele estilo tão artificial que dá vontade de ser sempre desarrumada e sente vontade de desviar o caminho mesmo que desviar o caminho signifique dobrar uma rua antes do que você precisaria e você faz isso e exatamente quando você se vê há menos de um quarteirão de onde queria chegar o cinza vai desaparecendo e vem chegando um vento e no seu ipod começa a tocar uma música muito feliz...

esse mundo é mesmo estranho.

Um comentário:

Fernando disse...

Os sentidos sempre se focam em objetos.
A partir dos sentidos a mente começa suas construções respondendo a tais estímulos, levando o impulso a percorrer roads por vezes long and windings. Quem sabe onde tais roads nos levam?

Perainda! Mas essas roads nos levam ou levam somente nossa mente?
Certa vez a senhorita atentou-me o caráter 'mentira' que a palavra 'mente' pode causar - como que nos enganando. Achei tal observação bastante interessante em sua validade.
De fato, a mente nos engana. Faz-nos pensar que somos realmente ela.
Mas na verdade, há algo por dentro da mente.
Algo sem forma nem cheiro, sabor ou cor, pois tal algo não passa pelos sentidos.
Esse algo pode vagar pelos rios ocultos da mente como uma jangada furada rumo à sua própria destruição.
Ou esse algo pode ser maior que a própria mente: pode ser o oceano no qual desaguam todos os rios da mente e toda a chuva dos sentidos, e, como tal, sofrer a ação de rajadas de ventos (até mesmo furacões) externos causando ondas hora de fase positiva, hora de fase negativa.
Mas tais ondas sempre serão superficiais, jamais abalarão suas profundezas que permanecem calmas e inabaláveis, abrigando e alimentando toda a imensa vida em seu interior e em seu redor enquanto as marés vão e vêem.

Esse algo lá dentro que enfrenta as vicissitudes da sua mente - que tenta lhe afundar enquanto vaga em sua superfície sensitiva - é você.